Veritates



" O estudo da era Templária em Portugal, coeva do início da reconquista, afigura-se um dos mais complexos trabalhos de investigação, tanto pela exígua documentação oficial como pela dificuldade na consulta dos arquivos particulares que continuam longe do acesso público. Estes, apesar de quase inacessíveis, são de longe os que mais informação contêm, sendo possível afirmar-se que, com eles, toda a história dos Cavaleiros do Templo em Portugal poderia ser praticamente escrita. No entanto, continuam dispersos por espólios particulares, muitos deles centrados numa Fundação à qual estes espólios têm convergido, tanto por meio de doações como por meio de aquisições negociadas.

Esta Ordem do Templo em Portugal teve duas eras conhecidas; a primeira como Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo, mais conhecida por Ordem dos Templários, que durou de 1128 a 1312 tendo passado à era seguinte, a segunda, com a nova designação de Ordem de Cristo.

Nesta fase de transição,  a Ordem do Templo tal como tinha sido conhecida esfumou-se como por magia, desaparecendo quase por completo na realidade da época. E com ela desaparece o seu vasto espólio documental, protegido pelos cavaleiros da Ordem, ocultado-o da cobiça real, mantendo-o longe do rolo compressor e destruidor da igreja.

Dissolvida a Ordem, permaneceram os cavaleiros coesos na irmandade e pela primeira vez, na clandestinidade.  Alguns ingressam na recém criada Ordem de Cristo enquanto outros fazem o seu percurso de vida envoltos na completa discrição. Cavaleiros da Ordem do Templo e membros da Ordem de Cristo passam a fazer um percurso paralelo, aparecendo numa e desaparecendo noutra, sempre em estreita relação.

 Esta nova Ordem de Cristo, manipulada pelos interesses políticos e económicos do poder real, vigiada de perto pela igreja, consegue prodígios na epopeia marítima portuguesa, alimentando-se da informação priviligiada que a Ordem clandestina lhe transmitia secretamente. Nunca a Ordem de Cristo teve na sua posse o vasto acervo documental da Ordem secreta. A relação era íntima  e as poucas mensagens escritas que entre elas circulavam eram encriptadas e após a sua descodificação eram lidas e logo destruídas. Sabia-se e aceitava-se a ideia de que havia um forte sigilo oficial, mas a pergunta que todos faziam era: "de onde vinha a informação?".

 A Ordem de Cristo nesta segunda era Templária passou pela fase aurea das "descobertas" cobrindo quase dois séculos de História em que engrandeceu Portugal ajudando na criação do seu império. Até que nos reinados de D. Manuel I e de seu filho D. João III (ambos de má memória) começou o seu declínio. A segunda era estava a acabar. A Ordem de Cristo é desmembrada, a sua componente militar é eliminada, passando a ser uma Ordem de cavalaria religiosa (seja lá isso o que raio for); religiosos com títulos de cavalaria!? Daí à sua derradeira extinção foi um pequeno passo. Hoje não passam de "honoríficos". A Ordem clandestina, agora na sua terceira era, cresceu, fortaleceu-se, ampliou o seu espólio, adaptou-se aos tempos e, como era de esperar, também ela mudou de nome. Mas, aprendendo as duras lições que a História lhe impôs, manteve-se secreta."

Como diriam  os velhos Templários no seu extinto blogue: "A Ordem atravessou os mares revoltos da História e sobreviveu até hoje." 

Eu diria que: "Velhos e esfarrapados, eles continuam por cá..." 

 

Filipe Pereira de Amaral