segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Bibliotecas "proibidas"

 

Universidade marroquina de Al-Qarawin que alberga uma das bibliotecas mais antigas do mundo

Praticamente todas as Bibliotecas possuem o que se costuma chamar de "reservado". Normalmente é esta a sua definição: "Reservados das bibliotecas" refere-se a colecções especiais de obras raras, frágeis ou importantes, separadas das colecções gerais e não acessíveis livremente. A reserva visa a conservação e é comum em bibliotecas de património, que podem digitalizar os seus fundos para permitir o acesso público."

a "porta secreta" da biblioteca de al-Qarawiyyin

E depois há as chamadas e pouco conhecidas "Bibliotecas proibidas"; uma espécie de camada dentro dos reservados onde só alguns priviligiados têm acesso para fazerem "estudos especiais". Trata-se de documentação ainda não "contaminada" pelos "ratos de bibliotecas" exteriores que trabalham para outros "ratos" que depois fazem negócio com o que obtêm; os chamados "mercenários de histórias".

Biblioteca da University de al-Qarawiyyin

 Mas aqui quero falar apenas dos que trabalham honestamente nessa tal camada proibida que só a eles se encontra acessível. Felizmente temos a sorte e a honra de conhecer um desses priviligiados. De origem tunisina, há muito radicado em Marrocos, professor de História na Universidade de Al-Qarawin, amigo de longa data, visita-nos de vez em quando e junta-se às nossas longas tertúlias que têm lugar na cidade de Lagos (Algarve) até altas horas da madrugada. Recentemente esteve por cá durante uma semana.

Lagos, Algarve

 Numa dessas tertúlias, falávamos sobre populações moçárabes e cristãs do Alentejo que foram levadas cativas para Marrocos depois das invasões punitivas de Abu Iúçufe Iacube Almançor (1190-1191), quando me lembrei de perguntar se na dita "biblioteca secreta" de al-Qarawin haveria algo sobre o império romano, uma vez que o norte de África esteve sob o domínio desse mesmo império e era natural que houvesse algo sobre o assunto nos seus recôndidos reservados que ainda se não conhecesse.

Para surpresa minha, o nosso amigo respondeu que sim, que havia um relato de um general romano que tinha participado na fundação de Mérida a mando do imperador Otávio Augusto, sobre o qual relato tinha feito um recente estudo. Cada vez mais curioso perguntei-lhe se nesse relato vinha alguma referência a Ammaia de Marvão. Respondeu-me que sim, que se eu estivesse interessado me enviaria cópia desse estudo.

Recebi-o na minha caixa de correio esta tarde e devorei o seu conteúdo. Sobre o que nos revela da Ammaia não vou falar aqui pois entendo que a publicação deste inédito deverá ter lugar no nosso outro blogue "Marvão, ninho de águias" com o título "Ammaia, a Hermínia da  Legio V Alaudae".

Aproveito para aqui agradecer de forma sincera a colaboração que o nosso amigo historiador (cujo nome não menciono a seu pedido) nos tem prestado, renovando os meus votos de máximo sucesso para o meritório trabalho de investigação que tem desenvolvido, lembrando-lhe que será sempre benvindo ao nosso Algarve, nosso e dele, e que o partilhamos com ele como se partilha com um amigo especial e um irmão. Bem haja. 

 

Fatima Muhammad al-Fihri
fundadora da biblioteca al-Qarawin

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